segunda-feira, 18 de julho de 2011

O silêncio antipedagógico na biblioteca pública brasileira

     Silêncio: essa parece ser a palavra que melhor retrata a situação caótica de grande parte das bibliotecas públicas brasileiras nos dias atuais. Caótica no sentido de um silenciamento quase sepulcral demonstrado por parte de autoridades governamentais, bibliotecários, pesquisadores, professores, alunos e demais leitores-usuários; dadas as condições praticamente surreais de zelo, atenção, cuidado, organização do acervo e utilização desse espaço cultural.
     É fato que o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, com sua enorme parafernália digital (correios eletrônicos, salas de bate-papo, chats, MSN, orkuts, twitters entre outros aparatos virtuais), embora necessárias à evolução do mundo contemporâneo, configuram-se como um dos principais fatores responsáveis pelo quase total abandono, desprezo e indiferença a que vem sendo submetidas muitas bibliotecas públicas brasileiras.
     Todavia, é possível interromper a cerimônia fúnebre em cujo caixão ainda jaz a biblioteca pública no Brasil. Dizemos isto porque entendemos que, a exemplo dos países desenvolvidos, as bibliotecas públicas devem ser vistas como as responsáveis, em grande parte, pelo desenvolvimento de hábitos de leitura em crianças, adolescentes e jovens; bem como pela valorização da cultura humana e formação de leitores crítico-reflexivos realmente comprometidos com o avanço da ciência e o progresso da Nação.
     Já a partir de 10 anos, vemos crianças já pré-adolescentes e quase 50% semi-alfabetizadas que não conseguem acompanhar a escola. Com muita liberdade e influência dos tais “amigos”, começam a ir mal na escola e deixam de frequentá-la. Preferem ficar com os tais “amigos” em shoppings, praças, etc. Nesta hora vem o convite para provar as novidades, sejam legais ou ilegais.
     Enquanto defensores da causa das bibliotecas públicas brasileiras, acreditamos ser proveitoso utilizar o espaço físico das mesmas de forma qualitativa e didático-pedagógica e não, como ainda ocorre em muitos casos, principalmente em nível de escolarização básica, como um lugar de “castigo” destinado a alunos ditos indisciplinados que tem como “punição” copiar, de forma meramente mecânica, longos trechos de obras “receitadas” por seus professores em sala de aula; ou ainda, como verdadeiros depósitos de livros e outros materiais impressos, danificados ou não pela ação do tempo e, o que é pior, por mãos humanas insensatas. Acrescente-se a isso os casos de professores que, por motivos de doenças sérias, idade avançada ou estresse pedagógico, são remanejados de suas funções laborais docentes para ficarem “encostados” (no sentido literal do termo) em bibliotecas públicas, visto que erroneamente esta se configura como o melhor lugar para o “repouso profissional”, até que chegue a tão almejada aposentadoria.
     Precisamos, pois, urgentemente recuperar o verdadeiro sentido da presença das bibliotecas públicas brasileiras no contexto da sociedade civil organizada: servir de espaço coletivo para a busca de informações e apropriação dos saberes historicamente acumulados. Mas, para tanto, faz-se necessário despertar-nos para a conscientização de sua importância, criando estratégias políticas e sócio-educativas que visem à utilização das bibliotecas públicas como locus de pesquisa, ensino e aprendizagem, isto é, uma espécie de laboratório onde seja possível (re)construir novos conhecimentos a partir dos já existentes.
     Diante do exposto, desejamos bradar, o mais alto possível, nosso manifesto crítico contra todo tipo de descaso, omissão e/ou negligência consentida em relação às bibliotecas públicas brasileiras e, por isso, conclamamos: basta de silêncio! Precisamos lutar fervorosamente em favor da revitalização, adequação, conservação e utilização das bibliotecas públicas como espaço educativo de apreensão do saber historicamente construído e patrimônio cultural da humanidade. Não podemos perder mais tempo. A hora é agora! Vamos começar por nós?

     Marcos Pereira dos Santos é mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e professor Auxiliar da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Campus Ponta Grossa

Texto do Jornal Virtual - Ano 9 - Nº 223-15/07/2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

Drogas: é preciso prevenir


    Em todas as civilizações que temos conhecimento constatamos, com maior ou menor intensidade, algum tipo de envolvimento com drogas, seja álcool, tabaco ou outros derivados. A busca pelo prazer através de artifícios faz parte da natureza humana.
     Hoje, com a vida em sociedade cada vez mais precarizada e cheia de pressões, percebemos o comportamento humano voltado para o agora e para a busca de prazer a qualquer preço. Com isso, o mundo das drogas funciona como uma “solução imediata”.
     A situação é difícil, mas talvez compreensível em alguns pontos, afinal hoje temos uma sociedade onde as mulheres precisam trabalhar para ajudar no sustento e dar melhores condições para a família. Os filhos, quando pequenos, ficam com babás, com a avó ou em creche, mas, ao iniciar o ensino fundamental, começa o problema: escola somente em meio período. Um turno na escola e o outro? Em casa ou na rua, convivendo com amigos e pessoas de todas as idades. Nesta fase é comum encontrar crianças de 7 anos juntos com jovens de 17.
     Já a partir de 10 anos, vemos crianças já pré-adolescentes e quase 50% semi-alfabetizadas que não conseguem acompanhar a escola. Com muita liberdade e influência dos tais “amigos”, começam a ir mal na escola e deixam de frequentá-la. Preferem ficar com os tais “amigos” em shoppings, praças, etc. Nesta hora vem o convite para provar as novidades, sejam legais ou ilegais.
     Com grande acesso à informação, nossos jovens, especialmente os mais carentes, querem ter acesso às coisas bonitas da vida: tênis e roupas de marca, celular e computador do último modelo. Os pais não conseguem comprar nem acompanhar as novidades lançadas pelo mercado. Como praticamente não existem no mundo formal condições para um adolescente de 14 anos ganhar dinheiro honestamente, sobra o convite aos pequenos delitos, furtos, desvios, pequenos favores. Neste círculo vicioso chega a vez do traficante, que também quer “ganhar” seu dinheiro. O grupo de “amigos” influencia comentando que a droga é muito prazerosa.
     A escola sente e acompanha a “perda” de cada um desses alunos a cada ano que passa. O que desanima é que não vemos nenhum governo, municipal, estadual ou federal, pensando em como quebrar esse círculo. A solução passa por rediscutir o modelo social das escolas. Precisamos ter escolas do ensino fundamental ao médio em período integral, das 8h às 17h como na maioria dos países em que a educação escolar faz o seu papel e afasta os jovens do submundo. Nesta escola, além das disciplinas obrigatórias, se ensinam os fundamentos de profissões importantes, como cozinha, panificação, marcenaria, computação, eletricidade, esportes. Com uma escola nesse modelo, não sobraria tempo para os nossos jovens ficarem na rua, com tempo de sobra, pensando apenas em como satisfazer seus prazeres momentâneos.
  

 Ademar Batista Pereira, presidente do Sindicato das Escolas Particulares - Sinepe/PR